Ana Rosa Chagas desenvolve instalação temporária em Maceió e consegue transformar o espaço urbano com colaboração das pessoas locais

Por Camila Berto Tescarollo Fotos Luis Eduardo Vaz

 

"Até hoje eu nunca participei de nada", "ninguém nunca me convidou para fazer isso", "eu tenho conhecimento suficiente?". Essas foram algumas colocações que a arquiteta Ana Rosa Chagas Cavalcanti ouviu quando se propôs a criar a Passagem Pop-Up, uma instalação colaborativa feita com materiais sustentáveis em Maceió. As pessoas que se envolviam com a execução da instalação começavam questionando a si mesmas e, após semanas de trabalho e trocas de conhecimento, sentiam que tinham a capacidade de intervenção nos espaços.

Inspirada em sua experiência com alguns coletivos da Europa para produção coletiva, a arquiteta iniciou sozinha a produção em Maceió, com objetivo de repensar a forma com que se discute a cidade e sua apropriação. O mês de janeiro de 2014 foi inteiro dedicado ao projeto, e a execução durou de fevereiro a março deste ano.

"Como eu queria fazer a integração entre arquitetura, espaços e as pessoas, teria que pensar em algo que instigasse nas pessoas a vontade de participar", explica Ana Rosa. A arquiteta escolheu quatro itens de ação que pudessem ser compartilhados - bancos com livros para serem trocados, mesa para jardinagem, horta e uma bicicleta sustentável que gera energia elétrica. A partir das pedaladas, a energia mecânica se transformava em elétrica pelo alternador, e era então armazenada em uma bateria que, por sua vez, alimentava o poste de luz feito por um tubo de PVC.

Após regulamentar junto ao CAU/ AL o projeto paisagístico e elétrico, a arquiteta começou a montagem ainda sozinha. Não demorou, porém, para que vizinhos e frequentadores da área contribuíssem com o espaço, trazendo ou levando materiais, propondo soluções e interagindo com as estruturas.

A intervenção temporária tomou forma na avenida Aristeu de Andrade, envolvida por uma grande estrutura de metal, semelhante a um biombo, e com espaços internos voltados aos pontos de ação. Tudo foi feito com materiais doados, reciclados ou reutilizados. A armação metálica, por exemplo, foi fabricada por seu Beto, um serralheiro que após os dois meses que durou a instalação reaproveitou o material em outros trabalhos.

Nesta experiência em Maceió, a arquiteta conta como recebeu sugestões diversas dos colaboradores do espaço: uma forma criativa de usar determinado material, uma disposição diferente dos espaços, uma saída para girar os pedais das bicicletas automaticamente com ímãs - esta última não concretizada, por dificuldade em encontrar os materiais. "O rapaz que deu essa ideia ficou de testá-la na casa dele, estou curiosa para saber se ele a realizou", acrescenta.

A construção colaborativa delineia seus contornos próprios, e isso é o mote da arquiteta: pensar global, agir local. Ana Rosa destaca as discussões que têm sido feitas, principalmente nas grandes cidades, sobre o direito e a posse à cidade: "Isso é global. Já o meio local tem suas especificidades e se apropria desses discursos de formas distintas".

Ainda que em Maceió persista um contexto social de exclusão e de privação de uso do espaço bastante acentuado, a experiência da Passagem Pop-Up na cidade reforça tanto o caráter coletivo da arquitetura quanto a possibilidade que ela tem de proporcionar mudanças positivas feitas em conjunto com quem usufrui desses locais.

Nesse aspecto, destaca a contribuição das pessoas de origem mais simples, que estão mais acostumadas a uma dinâmica de participação e ajuda mútua em espaços como o das favelas. "O trabalho da arquitetura não é ensimesmado. As pessoas têm conhecimentos sobre os espaços que não são restritos aos arquitetos, mas são válidos e devem ser ouvidos", sacramenta a arquiteta.

Fonte:http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/244/ana-rosa-chagas-desenvolve-instalacao-temporaria-em-maceio-e-consegue-318062-1.aspx

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