Como trabalhar em equipe

Daniel Beneventi

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É preciso maturidade e discernimento antes de formar um grupo. Além de uma seleção criteriosa de pessoal, que leva em conta currículo escolar, portfólio, experiências em bons escritórios e, principalmente, vontade de cooperação, é essencial ter a figura de liderança. E saber como organizar uma boa equipe, que divida tarefas e responsabilidades - que, mais do que cumprir tarefas, proponha ideias e contribua para o crescimento do escritório. "Egos exaltados precisam ser evitados", defende a arquiteta Maristela Faccioli.

UM POR TODOS, TODOS POR UM
O Studio MK27, que traz em sua sigla as iniciais do arquiteto Marcio Kogan, passou por um processo de transição nos últimos dez anos, em que o time deixou de ser grupo de pessoas que executavam o que o arquiteto pedia, para se transformar em pessoas 100% colaborativas. "Os arquitetos assinam como coautores de projeto, e todos temos o mesmo peso no desenvolvimento do trabalho", revela o arquiteto. Ao receber o prêmio do IAB- SP em 2010 pela casa em Paraty, Marcio Kogan estava com toda sua equipe, e todos subiram ao palco.

Marcio percebeu, após 20 anos de experiência com equipes, o quanto essa mudança agregaria qualidade aos projetos, e fez disso uma diretriz, apesar das inseguranças iniciais. "Foi difícil para mim e para a empresa", conta. "A ideia não era aumentar a produtividade, porque estávamos consolidados; o fim maior era produzir em grupos que pensassem mais e melhor; requintar as soluções."

Quando há raras oportunidades abertas, o MK27 procura gente criativa, "e que agregue história ao escritório". Para formar equipes duradouras, prefere profissionais que tenham no mínimo cinco anos de experiência em bons projetos - "o que significa contratar arquitetos de, no mínimo, 27 anos". É exigir maturidade para um trabalho em equipe, e que tem de ser maduro. Apesar da união entre os integrantes ser item essencial, não é cobrado do ingressante que saia fazendo tudo de uma vez só: "Respeitamos o amadurecimento de quem chega, seu tempo de entrosamento e dificuldades", explica. "Leva de dois a três anos para que comece a atuar como coautor de projetos."

INCENTIVAR A EQUIPE
Independentemente de quando aconteça, o importante é que o colaborador seja, de algum jeito, incentivado. "Cansei de ouvir jovens arquitetos reclamando que passam anos em escritórios desenhando como loucos, e jamais veem algo pronto", conta Maristela. Para ela, equipe tem de visitar obra, conhecer seus problemas práticos, e saber lidar com o cliente.

Para Anibal Sabrosa, da RAF Arquitetura, é o profissional quem tem de ser incentivado. "Não há bom funcionário se ele não gostar do que faz." Assim, fará parte do trabalho em equipe somente se sentir- se confortável para propor ideias, pesquisar e criar. Segundo Anibal, a RAF mantém cursos de língua estrangeira dentro do escritório, patrocina cursos de extensão para seus arquitetos e outras participações que agreguem experiência à vida profissional do colaborador - e resultem em projetos arquitetônicos.

PLANO DE CARREIRA
Entrar no mundo da arquitetura pensando em planos de carreira pode ser uma grande furada. "Em mais de 90% dos casos, o arquiteto não consegue regularizar seus funcionários, oferecer direitos, férias, 13o salário e planos de saúde - o que qualquer trabalhador de baixo nível na indústria ou no comércio já tem há mais de 60 anos", critica Maristela Faccioli. "Plano de carreira para arquiteto, no Brasil, é uma piada", diz. Quem tiver maior sorte, terá colaboração intensa em equipe bem integrada e longeva, em um grande escritório. E terá muito trabalho.

"A produção em equipe não necessariamente exige um grupo formado há muito tempo, mas ter um núcleo duradouro garante a coesão do escritório", afirma Lucas Fehr, arquiteto do Estudio América. Para ele, o maior entrave à formação de times duradouros são as oscilações inerentes à própria atividade do mercado de arquitetura. "Acho difícil construir uma equipe duradoura, porque a atividade é muito instável - ora há muito trabalho, ora há pouco - e as pessoas precisam ser remuneradas sempre", contabiliza Maristela.

A consolidação, no entanto, pode fazer a diferença. Outro exemplo de escritório capaz de juntar equipes de longa data é a Botti Rubin Arquitetura. Alguns de seus funcionários já têm mais de 30 anos de casa. "Aos jovens, procuramos transmitir o conhecimento extensivo do escritório. Todos aqui aprendem a desenvolver projetos que trazem em seu bojo a solução de qualquer problema que possa surgir - esse é o resultado da soma de experiências e de perspectivas", diz Alberto Rubens Botti.

SER MUlTIDISCIPlINAR
Há quem acredite na multidisciplinaridade das equipes, e há quem as dispense, concentrando o trabalho do escritório na própria arquitetura, com associação paralela e eventual com profissionais de outras áreas. "No Estudio América já tivemos pessoas de outras áreas, como engenheiro de estruturas, ou especialistas em sustentabilidade", relembra Lucas, e admite que as soluções tendem, na presença deles, a ter maior profundidade. "As parcerias nos dão agilidade e flexibilidade na execução do nosso trabalho diário", pondera Lucas. "Acredito que ter contribuição permanente de historiadores e antropólogos, artistas plásticos, engenheiros e administradores pode ser muito interessante."

A ideia é que todos estejam facilmente acessíveis em seus nichos de especialidade para consultas antes de tomadas de decisão que sejam essenciais. "Projetos ficam cada vez mais complexos, e nossos serviços contemplam uma série de disciplinas que temos de manter em nossa filosofia de trabalho", conclui Anibal. Nesse contexto, a pluralidade de profissionais, inclusive administradores e profi ssionais de recursos humanos, poderá ser definitivo para bons resultados, de acordo com o tamanho da empresa.

Daniel Beneventi

Monte sua equipe

Multidisciplinaridade é um dos pontos-chave para o time brilhante, porque faz convergir experiências e pontos de vista. Um time montado apenas por critérios de criatividade fica falho no controle ou nos processos. Trata-se de unir diferentes talentos, para fins de competitividade e crescimento. Há de se levar em conta ainda competências humanas, pessoais, temperamentais, requisitadas em cada função a ser desempenhada.

Respeite o tempo do jovem e o do experiente, e o que cada indivíduo traz consigo em termos de conhecimento técnico e de comportamento. É da habilidade de um líder que se forma o conjunto eficiente e inteligente de pessoas complementares, extraindo a força de cada funcionário pelo que faz de melhor. Mantenha sistemas simples de feedback e apreciação ou correção de rumos.

Incluir pessoas em decisões a serem tomadas é gerar corresponsabilidade. O trabalho em equipe funciona quando objetivos de um projeto são claros e quando cada integrante dá sua contribuição e se responsabiliza por ela. Reuniões devem ser estruturadas de maneira simples, com foco nos objetivos e necessidades de cada projeto, para que desafios fiquem visíveis a todos. Assim, colaboradores enxergam onde e como podem contribuir.

É essencial que se tenha o desenho de cada função. E que se faça o desenho de cada candidato, para saber se atenderá ao esperado.

Uma equipe dura ao longo de tempo pelos desafios que enfrenta e vence, pelas mudanças que empreende e pela manutenção do foco nos propósitos maiores da organização onde atua. Confiança, investimento, atenção às mudanças de necessidades e diálogo sempre aberto ajuda a continuar o desenvolvimento com uma mesma equipe. Ninguém quer estagnação.

Fonte: Grupo Quantum - Claudia Riecken (psicoterapeuta especialista em neurologia comportamental, criadora do Metódo Quantum, sistema de assessment em seleção e desenvolvimento), Tatiana Álvares (psicóloga) e Andrea R. Sorbini (arquiteta) www.metodoquantum.com.br

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/223/como-trabalhar-em-equipe-271209-1.aspx

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