A arquitetura é a forma de expressão do habitar. É a resposta concreta à necessidade de morar em algum lugar. Dessa forma, a arquitetura transforma-se no espaço que, por fim, abriga o habitar.
Com o decorrer da evolução arquitetônica somada a evolução tecnológica, as possibilidades se expandiram a um nível inimaginável. Entretanto, esquecemos que no início de tudo o primeiro habitar deu-se na natureza crua. E que também, a arquitetura que habitamos, habita no planeta.
A partir dessa reflexão, podemos perceber que, apesar de toda conquista do meio natural e de todas as transformações possíveis, a natureza ainda reside em nós e consequentemente dependemos dela como seres naturais.
A ocupação do meio natural dá-se de forma imponente, autoritária e muitas vezes hostil. Essa reflexão não trata-se de uma apologia as “modinhas sustentáveis” ou até mesmo sobre um discurso ambientalista defensor da natureza.
A arquitetura, através da nossa ocupação, é imposta à natureza. Ainda que muitas vezes a natureza prove sua força incomparável, por outras, esta está sujeita aos nossos comandos. Porém cabe a nós enxergarmos e compreender que nossa interferência pode ser mais racional e menos agressiva.
Este texto propõe uma reflexão sobre como a arquitetura, com seu potencial destrutivo e modificador, pode também, abrigar em si, a essência sutil da harmonia e da integração com o meio.
Como arquitetos, devemos dominar diversas áreas do conhecimento, a relação de interpretação psicológica dos clientes, a parte técnida construtiva de uma obra, a interpretação do programa, entre muitos outros fatores. Entretanto, cabe a nós, também, a interpretação do meio natural, que muitas vezes torna-se secundário ou até mesmo é descartado, perante as outras imposições.
O potencial de adaptação que temos inseridos em nós, como humanos, deve refletir também na nossa arquitetura. Apesar das diversas situações diferentes, ainda que não seja possível intervir de forma sutil no meio natural, é ideal que ao menos a intenção e o sentimento de adaptação esteja presente nas soluções arquitetônicas.
A estética nem sempre, necessariamente, precisa ser voltada para uma arquitetura “sustentável” ou “verde”, com vegetação e paredes verdes e etc. Algumas soluções podem ser sutis e elevar a estetização da forma a um nível não definido, elevando por consequência a qualidade e valor arquitetônico.
Responder com a arquitetura aos processos naturais como também aos elementos, evidencia e fortalece a relação entre arquitetura e natureza. Prever, ou manter um elemento natural em um meio que irá ser transformado, agrega não só o valor estético mas também um valor elementar. Agrega vida à uma arquitetura que deve ser alimentada pela vida.
Façamos do potencial arquitetônico uma ferramenta capaz de produzir espaços não só voltados para o ser humano de fato, mas espaços que sejam capazes de reconectar a vida com seu meio natural. E que através de uma arquitetura harmônica e gentil, possamos novamente usufruir da natureza que tanto já nos serviu.
Texto escrito por Thaisa M. Porfirio,
colaboradora do Arquitete suas Ideias
0 comentários:
Postar um comentário