19/05/2015 · by Hiroshi · in Arquitetura. ·
Um das grandes dificuldades do arquiteto é mostrar o valor do seu trabalho. Isso mesmo, mostrar, não justificar.
Uma grande parcela da população ainda enxerga “apenas desenhos” na arquitetura. Mas é muito mais que isso. Desenhos são, na verdade, a menor parte do trabalho do arquiteto.
Então o que de tão grandioso o arquiteto faz, já que o desenho (produto final) é a menor parte de seu serviço?
Vamos tomar um caso comum em um escritório de arquitetura para exemplificar. Temos um cliente que pretende comprar um projeto de arquitetura para sua futura residência. Para começar, existe o campo emocional. O que este cliente quer, quais são suas necessidades, seus sonhos, seus desejos e vontades.
Somente neste campo, o emocional, já se tem boa parte do trabalho.Precisamos alinhar perfeitamente sonhos, desejos e vontades com as reais necessidades. Isso acontece, na maioria das vezes, por dois motivos: recurso financeiro e limitações físicas e topográficas do terreno.
Ao construir uma casa, principalmente pela primeira vez, é comum os clientes quererem colocar tudo o que sempre sonharam, e muitas vezes nunca tiveram.
Se isto não for muito bem pensado e discutido, pode certamente acabar prejudicando o projeto. De que forma? Com espaços limitados para circulação, pouca flexibilidade na decoração, ventilação e insolação comprometidas, entre outros.
Ao mesmo tempo que sabemos da importância emocional do nosso cliente, é nosso dever orientar da melhor forma, principalmente por saber que, na maioria das vezes, o cliente não consegue enxergar tridimensionalmente. E quando já estiver construído, pode ser tarde demais e uma grande decepção a ser levada para o resto da vida.
Esta é uma etapa muito delicada, pois temos também nosso dever em atender todos os desejos de nossos clientes, com a obrigação de fazer o melhor tecnicamente. O meu objetivo, por exemplo, é ver meu cliente com lágrimas nos olhos de emoção ao ver seu projeto. Não quero que veja desenhos, quero que veja sonhos.
Outro ponto importante é o recurso financeiro. À medida que o projeto vai evoluindo, é natural a empolgação evoluir junto. Esta é a hora aonde o cliente vai tendo vontades e mais vontades. E é nossa obrigação também, orientá-lo dos custos. Não um orçamento detalhado, mas sim do acréscimo que aquele “algo a mais” pode gerar no custo final da obra em relação ao projeto inicial, onde não se havia tantas “vontades” no projeto.
Uma vez tudo isso alinhado, vem à concepção. Conhecendo as vontades, sonhos, desenhos, reais necessidades, terreno e recursos financeiros, temos que criar em cima disso, alinhando plasticidade com funcionalidade. E isto envolve muito conhecimento técnico aliado ao que eu chamo de “sentimento artístico”.
Falando de técnica, é de suma importância e muito estudado pelos arquitetos, a maneira como o ser-humano habita e se comporta no meio em que vive, trabalha ou frequenta. Isso envolve conhecimento do corpo humano e dos dimensionamentos ideais de cada móvel ou objeto usado para toda a atividade humana. Isso é o que chamamos de funcionalidade. Circulação e mobiliário tem que estar em perfeita harmonia. Lembrando, essa funcionalidade entre circulação e mobiliário, tem que ser conseguida contemplando o que já vimos: vontades, desejos, sonhos, terreno, recursos financeiros e reais necessidades.
Tudo isso é projetado levando em conta as necessidades construtivas. Não se começa um projeto de arquitetura pensando exclusivamente na forma da edificação. Além de tudo isso que venho falando exaustivamente, precisamos contemplar estas necessidades como por exemplo, a estrutura, como ela vai se comportar; a hidráulica, por onde irá passar para não prejudicar a instalação de alguns móveis (ninguém quer colocar um quadro na parede e furar um cano); o mesmo acontece com a instalação elétrica, com os pontos de tomadas e interruptores. E existe muitos outros projetos que caminham junto com a arquitetura, ar-condicionado, sistema de alarmes, sistema de proteção contra cargas atmosféricas, projeto de iluminação, sistemas de som, automação, entre outros.
E chegamos ao que, para o cliente, é o mais empolgante: a forma. Alguns não concordam, mas costumo dizer que a arquitetura antes de mais nada, tem que ser bonita. Muitos dizem “beleza sem funcionalidade não funciona”. Concordo plenamente.
Quando vamos visitar alguns bairros residenciais ou condomínios para comprar uma casa, em qual casa você para seu carro em frente para entrar? Naquela que você acha mais bonita ou naquela que você acha mais funcional?
Com certeza naquela que você acha mais bonita, até mesmo porque você só saberá se é funcional ou não, depois de entrar. Então muitos pensam: “Gostei dessa (achei bonita), vou entrar pra ver se é funcional”. Faz sentido?
Então juntando todas as etapas, tudo o que vimos até aqui é a criação de um projeto de arquitetura que plasticamente e artisticamente seja bonito. São forma e função caminhando juntos.
Então ao final de um projeto, se ele estiver atendendo todas essas necessidades citadas anteriormente, e mesmo assim não estiver bonito como gostaria, o projeto deu errado. É necessário repensar algumas coisas.
No fim, podemos afirmar que arquitetura é tudo, menos só “desenhos”.
Texto de Fábio Oliveira para o Blog Arquitete suas Ideias.
Fonte: http://arquitetesuasideias.com/2015/05/19/arquitetura-sao-so-desenhos/
1 comentários:
Muito bom o texto. Infelizmente muitos pensam que são só desenhos, não só clientes, como mestres de obra, pedreiros e etc. Bom seria que todos vissem.
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