Sua presença no espaço urbano é vital. As quedas e os transtornos pelos quais São Paulo tem passado nesse último verão fazem renascer discussão sobre como estamos maltratando a natureza e sofrendo as consequências
Vera Kovacs - 03/2015 - Arquitetura e Construção
Levi Mendes Jr.
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Esta imagem da Praça Waldir Azevedo, na zona oeste paulistana, compõe uma cena cada vez mais rara. Ela e tantos outros espaços e ruas cheios de verde ganham enorme importância em tempos de crise hídrica. "A vegetação é a fábrica de chuvas. Sem ela, não há umidade suficiente capaz de gerar as precipitações necessárias à manutenção de rios e represas", explica Ricardo Cardim, mestre em botânica pela Universidade de São Paulo (USP). E as árvores desempenham papel fundamental nesse processo. "Por volta de 70% da água que cai do céu é amortecida pelas copas, seguindo lentamente até o solo, o que evita a erosão. Quando não existe essa barreira natural, a chuva provoca enxurradas e carrega os sedimentos ao fundo dos rios e córregos, causando o assoreamento", completa o especialista.
Assim fica fácil entender por que a metrópole - dotada de pouca vegetação e muito concreto - sofre tanto com as tempestades de verão. Além das enchentes, o expressivo volume de árvores caídas comprova, infelizmente, o crescimento desprovido de projeto urbanístico. "No passado, a arborização das vias era feita espontaneamente pelas pessoas com plantas recebidas de parentes e vizinhos. Por isso a grande incidência de abacateiros, resultado das experiências das aulas de ciências, em que os alunos colocavam sementes da fruta para germinar e, depois, a muda ia para a calçada", conta o paisagista Benedito Abbud, que, na década de 80, participou de um levantamento sobre o tema. Tal frutífera, segundo ele, tem raízes profundas, e seu fruto pesado pode machucar quem passa embaixo dela.
"Nos anos 50 e 60, era moda cultivar figueiras em vaso em formato de cone, porém não se desconfiava que elas logo estariam gigantes. Com o crescimento, a espécie acabava quebrando o recipiente e era transplantada para o passeio público. O resultado foi a invasão de figueiras. Imensas hoje, elas entopem o encanamento subterrâneo, quebram o asfalto e as calçadas", exemplifica. Por essas e outras, novos projetos de paisagismo precisam levar em conta o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica. Ricardo sugere, como alternativa, o cambuci, símbolo da cidade e um tipo de pequeno porte (até 5 m), além do pau-viola (até 8 m), com frutos vermelhos, e da copaíba (até 12 m), madeira de lei bastante resistente.
RAIO X DAS QUEDAS
Quatro tempestades de verão conseguiram derrubar quase a metade do número normal de árvores tombadas dentro de um ano
- Em apenas três meses (de 11 de novembro de 2014 a 4 de fevereiro de 2015), 1 765 árvores* caíram na cidade de são Paulo
- Desse total, segundo a prefeitura, 63%* estavam saudáveis
- 43%* das quedas aconteceram em apenas quatro tempestades
- O Parque Ibirapuera fechou, pois 25 espécies de grande porte desmoronaram no dia 28 de dezembro de 2014*
- A cidade conta com 14,07 m2** de área verde por habitante
- A média de quedas de árvores é de 2 mil* por ano
- A prefeitura diz que realizou em 2014 102 mil podas e 14 mil* remoções
- A gestão atual plantou 211 650 mudas**, o equivalente a 23,5% das 900 mil prometidas em campanha
*Dados divulgados pela prefeitura de São Paulo em 4 de fevereiro de 2015.
**Dados disponíveis no site planejasampa.prefeitura.sp.gov.br
E ELAS VIERAM ABAIXO
Eventos climáticos extremos - eis a justificativa da prefeitura para os transtornos na cidade entre novembro de 2014 e fevereiro de 2015
Desafio você, caro leitor, a afirmar que não deparou pelo menos com uma árvore tombada durante as tempestades de verão. Morador do bairro do Butantã, na zona oeste paulistana, o revisor de texto José Américo Justo é um dos felizardos de viver numa rua arborizada. Porém, entre o Natal e o Ano-Novo do ano passado, passou por momentos de terror por causa de um temporal de 12 minutos.
"Galhos da sibipiruna diante da minha casa caíram sobre a fiação e a rua, causando curto-circuito e faíscas para todo lado.
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