Oscar Müller 16 de abril de 2015Urbanismo
Neste século XXI, uma cidade contemporânea só se muda através de UMA NOVA GERAÇÃO DE PROJETOS URBANOS, concebidos sob os princípios do Desenho Urbano, comprometidos com Planejamento, Estratégia e Projetos Especiais, surgindo um URBANISMO DE TERCEIRA GERAÇÃO:
- Estratégico: por nortear o desenvolvimento;
- Sistêmico: por operar em diversos níveis administrativos;
- Holístico: por considerar a análise de todos os aspectos do desenvolvimento;
- Sustentável: por promover a racionalização do uso dos recursos naturais.
Há muito tempo o processo de elaboração de Planos Diretores das nossas cidades não caminha bem (na verdade, nunca caminhou…). Os interesses aí envolvidos são enormes. Os resultados são amontoados de propostas disformes, anódinas, precárias e sem muita consistência orgânica. Nos anos de ditadura a população ficou impedida de participar, mas agora, em pleno regime democrático, com participação social exuberante, há a tendência em apenas chancelar o que associações de moradores, movimentos populares, grupos organizados, empresários etc. desejam, e isso não pode ser considerado um projeto urbanístico. Como é natural, cada grupo de moradores procurará “transformar” a região em que vive num “oásis”, o que não necessariamente coincide com os interesses da cidade, não na legislação atual. Um exemplo: áreas onde já existe uma boa infraestrutura (eletricidade, rede de água e esgotos, ruas, serviços de transporte, escolas etc.) devem normalmente ser adensadas nas grandes cidades, isto é, receber mais moradores de modo a aperfeiçoar a utilização dos investimentos públicos. Mas é claro que quem já mora na região vai preferir o bairro com menos habitantes e, portanto, menos prédios, mais área verde, menos trânsito e assim por diante. É desse tipo de conflito, considerando-se também interesses de incorporadoras, imobiliárias, comerciantes etc., que as Leis de Zoneamento têm de tratar. Não é tarefa fácil em lugar nenhum do mundo.
Que caminho percorrer? Temos que produzir uma “reforma urbana” pra valer.
O que seria uma reforma urbana que nos tornasse mais urbanos?
Comecemos pelo bairro. Como definir o bairro? Como pensar o bairro?
O bairro, definido no Dicionário Aurélio “como cada uma das partes em que se costuma dividir uma cidade ou vila, para mais precisa orientação das pessoas e mais fácil controle administrativo dos serviços públicos”. Entretanto, nossa legislação não o define política e administrativamente, o que faz muita diferença, tanto em seu entendimento histórico, quanto em sua definição, quanto na organização da cidade. O bairro é a unidade de base da vida urbana, a essência da realidade urbana, um setor natural da vida social. É com base no bairro que se desenvolve a vida pública, que se organiza a representação popular. O bairro sempre tem um nome que lhe confere uma personalidade dentro da cidade. O morador refere-se ao seu bairro, quando quer situar-se na cidade e, por vezes, tem a impressão de ultrapassar um limite quando vai a outro bairro. É base da vida urbana que só pode ser pensada tendo-se em vista a cidade como totalidade. O bairro não existe como uma unidade isolada e autônoma. Para muitos autores a base principal da vida urbana é o centro. É a noção de centralidade que torna possível a cidade e seus bairros (por isso, a centralidade é o coração da cidade). O bairro também pode ser entendido como uma mediação importante entre o espaço privado (da casa, da família) e o público, entre a vida familiar e as relações societárias mais amplas e para o compartilhamento de referenciais espaciais comuns, como o espaço do encontro, construído no nível da vida cotidiana.
O modo de vida urbano, engendrado nas cidades pré-industriais, fazia com que o espaço fosse apropriado pelos seus cidadãos. O valor de uso do espaço predominava sobre o valor de troca. A partir da industrialização, a cidade converte-se em produto do capital e a seu serviço. O valor de troca passa a predominar sobre o uso, implodindo e explodindo a cidade. Por isso que um Novo Urbanismo está em oposição a esse modo de vida absolutamente distinto do modo de vida tanto das cidades pré-industriais, quanto do modo de vida rural. Hoje temos uma sociedade urbana com resíduos de épocas anteriores. A cidade explode, ou seja, a sociedade urbana se generaliza, entra em todos os lugares e tende a se tornar universal. Ao mesmo tempo, ela implode, é destruída, restando dela apenas fragmentos dispersos.
O bairro (a aldeia, a vila, a localidade) é um fenômeno pré-moderno e por isso serve de referência a um novo urbanismo.
Projetos em pequenas, ou grandes escalas, para situações urbanas simples ou complexas, devem envolver necessariamente interseções de dispositivos de transporte, trânsito, intervenção e requalificação urbana, reconfigurações, estruturas de serviços, lazer, moradia adequada, atividades industriais, parques, meio ambiente e proteção intransigente de mananciais. É o Primevo em Versão Pós-Modernidade que explicita Um Novo Modelo Contemporâneo de Crescimento Urbano.
Hoje essencialmente trabalhamos com as ideias de “cidade genérica” (mancha urbana sem história, fatiada, superficial, amorfa, incoerente e congestionada, refratária a todo esforço de planificação) e forte atração e identificação ao “bigness” (qualidade dada pelas dimensões das grandes cidades) como uma característica das metrópoles, das megalópoles. Conheço algumas cidades pequenas cujos moradores saem às ruas com seus veículos, nos finais de semana, para simularem um “grande congestionamento” nas ruas principais “como nas cidades grandes”. Na sua maioria, as cidades, e seus administradores, produzem uma urbanização sem urbanidade, sem nenhum suporte teórico. Não é só problema dos administradores, mas também a incapacidade atual dos arquitetos em expor qualquer convicção sobre a organização da vida nas cidades. As cidades são entendidas como paisagem, uma justaposição ao acaso de partes desconexas. A Arquitetura e o Urbanismo brasileiros estão impotentes diante do que não tem limites, do “imensamente grande”. Essa é a forma mais acabada e contemporânea de entender a Arquitetura e o Urbanismo. O certo é que não se pode mais querer controlar cidades por um único gesto Arquitetural ou Urbanístico. Convulsivos, os espaços ocupados, que se espalham infinitamente, incontroláveis, não estão mais comprometidos com a criação de ordem e coerência.
Teru Tamaki
O Urbanismo acabou e reiniciou-se nos anos 60, segundo Jane Jacobs (intelectual, escritora, analista social, ativista, economista autodidata, livre-pensadora e uma corajosa crítica, de inflexível autoridade). Jacobs era uma norte-americana que optou por se tornar canadense, uma líder das lutas pela preservação das comunidades urbanas e pela eliminação das vias expressas, primeiro em Nova Iorque e depois em Toronto. Seu primeiro livro, The Death and Life of Great American Cities, publicado em 1961, tornou-se um catecismo para as lideranças comunitárias e para o que ela chamou de cidadãos comuns. Seu livro demorou a chegar ao Brasil.
Se um Novo Urbanismo é possível, não se tratará mais da disposição de objetos mais ou menos permanentes, mas da irrigação de territórios. Este Novo Urbanismo não buscará mais configurações estáveis, mas a criação de campos que acomodem processos que resistam a ser cristalizados em formas definitivas. Não a imposição de limites, mas a supressão de fronteiras. Não a identificação de elementos, mas a descoberta de híbridos. Não mais obcecado com a cidade, mas com a manipulação da infraestrutura para infinitas intensificações e diversificações, curtos-circuitos e redistribuições, a reinvenção do espaço urbano. A globalização em curso, “a todo vapor”, além do mais, gera novas relações entre o local e o global. Com efeito, o local pode ser passivo perante o ator transnacional, perdendo a sua especificidade ou, pelo contrário, pode promover-se a especificidade do “local” ao nível global, tornando-o, por exemplo, atrativo destino turístico ou de confortável habitabilidade. Em qualquer caso, perde-se a densidade da relação local-nacional, a favor da relação local-global.
E, sem dúvida, neste século XXI, a MOBILIDADE é a força motriz da cidade contemporânea!
O mundo contemporâneo lançou um olhar muito mais amplo sobre a MOBILIDADE, dissociando-a de ser apenas movimento ou deslocamento, ou seja, processo que leva pessoas, bens, mercadorias e serviços de um lugar a outro.Esse fenômeno da MOBILIDADE passou a envolver vários fatores e processos distintos que se encontram simultaneamente na estrutura do sistema produtivo e no dia-a-dia vivido pelas pessoas, englobando todo o sistema de transportes e a gestão pública desses espaços, passando pela forma e reconfiguração urbana, as interações espaciais até as dinâmicas demográficas específicas (estrutura familiar, migração, ciclo vital). Assim como a questão digital e o acesso às infovias, base de todo desenvolvimento científico e tecnológico. Congregando uma série de elementos imprescindíveis para garantir acesso a serviços e bens, a mobilidade pode ser vista como um dos mais importantes fenômenos da sociedade contemporânea.
Daí decidi eleger os 3 pilares da cidade contemporânea: MOBILIDADE URBANA, MOBILIDADE SOCIAL E MOBILIDADE DIGITAL. Isso vai fazer a diferença!
OS TRÊS CAMINHOS BASILARES:MOBILIDADE SOCIAL (o desenvolvimento social, o desenvolvimento econômico e a segurança social),
MOBILIDADE URBANA (desenvolvimento urbano, meio ambiente, a reconfiguração da cidade, o transporte, o transito, a reurbanização e o saneamento),
MOBILIDADE DIGITAL (a democratização da cidade pelas infovias e fibras óticas).
As cidades ou estão interessadas em mudar ou não têm futuro.
Autoria/créditos:
Arquiteto e Urbanista Willian Fagiolo
Fonte: http://www.synapsis.org.br/as-cidades-mudam-ou-nao-tem-futuro/
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