As vantagens da plataforma BIM incluem todo o ciclo de vida do edifício, desde os estudos de viabilidade até a demolição

Ainda que reconhecido mundialmente, conceito é pouco explorado em mercado brasileiro e a dúvida está presente em muitos escritórios de arquitetura

Por Larissa Leiros Baroni
Edição 208 - Julho/2011



Projeto na plataforma BIM do Shopping Iguatemi, em São Paulo, Projeto de Orbi Arquitetura
De um lado, a oportunidade de agregar maior qualidade e mais eficiência aos projetos arquitetônicos. Do outro, o medo de romper com o tradicionalismo e o desconhecimento do novo. Paradoxos que ainda fazem muitas empresas se questionar se vale ou não a pena migrar para o BIM.
Um processo de transformação que, na opinião de Américo Corrêa Junior, executivo da Autodesk, tende a ser um pouco mais lento do que a transição da prancheta para o CAD. "A primeira mudança se restringiu ao meio, ou seja, tudo o que antes se fazia no papel passou a ser feito no computador. O BIM, no entanto, vai exigir uma mudança cultural de toda a cadeia da construção civil, inclusive dos escritórios de arquitetura", explica. Modificação que refletirá também no jeito de arquitetar. "Com o detalhamento das informações, a criação do projeto demanda mais tempo. Entretanto, ganha-se agilidade nas etapas de checagem e coordenação. Na era CAD, o processo é inverso", compara Guilherme Mattos, arquiteto-diretor do escritório que leva o mesmo nome.
Como argumento para a resistência à implantação da plataforma BIM, algumas empresas alegam não usar a plataforma porque as outras disciplinas ainda não usam - como os projetos de engenharia -, outros apontam a inexistência de recursos para o investimento em tecnologia e treinamento. Há ainda os que afirmam que a nova plataforma poderá limitar a criação arquitetônica. Argumentos que, para o brasileiro Edson Yabiku, arquiteto partner do escritório Foster and Partners, mascaram as vantagens do BIM - para Edson, superiores a qualquer visão contrária à transição.
O escritório de arquitetura Aflalo & Gasparini Arquitetos, de São Paulo, iniciou o processo de migração para o BIM em 2005, sem se preocupar se as outras etapas da construção civil estavam ou não adaptadas à plataforma para iniciar a mudança. "Atualmente, 40% dos nossos projetos são desenvolvidos a partir do BIM. Nesses casos, também utilizamos o CAD para possibilitar a troca dos arquivos com outros que não usam o BIM", descreve Miguel Aflalo, e ainda garante que o processo não limita a criação arquitetônica. "Os profissionais têm a oportunidade de se sentir mais arquitetos. Gasta-se mais tempo para projetar e menos para documentar, além de existir a oportunidade de detalhar mais os projetos e gerenciar o maior número de informações", justifica.

divulgação ODA
Foto e detalhe das instalações do Velódromo Olímpico de Londres, de Hopkins Architects. Imagem em BIM cedida pela BDSP Partnership Consulting Engineers
Edson Yabiku compartilha com a opinião de Aflalo e afirma que o BIM não altera o processo de criação da arquitetura. "As mudanças estão na modelagem dessa criação que, com a dimensão 3D, ganha uma versão mais próxima ao real", alega. O limite, para André Machado, da DG Projetos, está na capacidade técnica dos arquitetos. "Os softwares possuem ferramentas capazes de gerar todo tipo de informação necessária ao projeto arquitetônico. A limitação, portanto, está no desconhecimento de cada uma das funcionalidades do programa", acrescenta.
As vantagens envolvem todo o ciclo de vida do edifício, desde os estudos de viabilidade até a demolição. Ao mesmo tempo em que a simulação 3D possibilita a construção virtual do projeto com informações mais confiáveis e consistentes, viabiliza a economia de tempo e dinheiro.
Diante de tantas funcionalidades, o BIM começa a ser bem visto pelo mercado. Algumas concorrências públicas já exigem que os projetos sejam entregues na plataforma. "Esses casos ainda são minoria. Mas a partir do momento em que as potencialidades forem expandidas às construtoras e aos clientes, a exigência será maior. Até porque pouco importa a forma como os projetos são construídos, o que eles querem é mais qualidade, eficiência e menos custo", expõe Miguel.
Esta, aliás, é uma tendência mundial. "No Reino Unido, já está confirmado que, em pouco tempo, todos os projetos públicos terão que ser desenvolvidos na plataforma BIM", exemplificam John Perry e Sinisa Stankovic, diretores da britânica BDSP Partnership Consulting Engineers, consultoria especializada em desempenho ambiental para construção civil, que utiliza a plataforma BIM em seus projetos.
O processo de migração parece não ser mais uma opção. Pelo menos para aqueles que querem manter-se na disputa do mercado de trabalho, a adaptação é uma exigência. "Não há mais espaço para a pergunta 'quero ou não adotar o conceito?', ela deve ser substituída para: como vou utilizá-lo?", relata Miguel.
John e Sinista também apostam: para eles, os escritórios que dominam a plataforma BIM têm uma vantagem competitiva que ainda vai permanecer pelos próximos cinco anos, no mínimo. "Após esse período, praticamente todos os escritórios de médio e grande porte do cenário internacional vão usar BIM. Será uma condição mandatória de desenvolvimento de projeto", acreditam.
Não quer dizer, no entanto, que o processo irá extinguir o antigo CAD. Na Aflalo e Gasparini, por exemplo, apenas os projetos considerados de alta complexidade são desenvolvidos a partir da nova plataforma. "Quando você tem que apresentar o esboço de um projeto em um prazo de dois dias não vale a pena utilizar o BIM. Nesses casos, a praticidade de um 2D acaba saindo na frente", compartilha Miguel Aflalo.

Maiores benefícios do BIM
69% Melhorar o entendimento geral sobre as intenções do design

62% Melhorar a qualidade geral do projeto

59% Reduzir conflitos durante a construção

56% Reduzir mudanças durante a construção

44% Ciclos de aprovação do cliente mais rápidos

43% Melhor controle/previsão de custo

43% Reduzir números de pedidos de informação
(Pesquisa: McGraw Hill Construction na França, Alemanha e Reino Unido, em 2010)

Fonte: http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/208/vale-a-pena-migrar-224372-1.aspx

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