Saiba como estimular a criatividade no ambiente de trabalho

Por Juliana Nakamura
Edição 215 - Dezembro/2011

Sergio Colotto

Sim, a criatividade pode ser desenvolvida e exercitada. Poucas vezes vem do zero: ideias inovadoras são, principalmente, resultado de bagagem cultural e de conhecimentos que vão além da vida profissional - ou seja, incluem uma busca por informações diversas, seja em livros, filmes ou música, por exemplo. Na arquitetura, cultivar essa busca constante por novas ideias pode evitar a redundância de linguagem e é uma ferramenta a mais para encontrar soluções aos problemas dos clientes.
"Repetir a linguagem pode ser um reflexo da insegurança para a experimentação e sua necessidade de se ater à memória e ao passado. A história tem obviamente de ser considerada. Mas também é importante termos sensibilidade para interpretar nossa condição social e cultural e criarmos nossos próprios marcos históricos", acredita Daniel Corsi, do escritório Corsi Hirano.
O arquiteto Guto Requena lembra que as tecnologias digitais trouxeram uma espécie de democratização da profissão. Se por um lado isso é positivo, por outro indica que bons profissionais precisam se esforçar mais para se diferenciar. "Todos podem fazer maquetes eletrônicas realistas. O que diferencia o projeto é a criatividade e a destreza em lidar, de maneira original, com os problemas e desafios do projeto", diz Guto.

BUSQUE REPERTÓRIO
O pensamento criativo é, de forma geral, proporcional ao repertório profissional, cultural e humano do indivíduo. "A experiência pessoal fora do ambiente arquitetônico conta muito, ainda mais hoje, quando a parceria entre arquitetura e outras áreas vem criando soluções extremamente inovadoras", diz Lula Gouveia, sócio do Estúdio Superlimão. "Antoni Gaudí tinha uma bagagem extraordinária simplesmente por conviver com seu pai que era serralheiro", exemplifica Lula.
Em um de seus trabalhos mais recentes, o showroom e galeria de arte Firma Casa (AU 213), em São Paulo, o Estúdio Superlimão precisava encontrar uma solução para que toda a fachada pudesse ser revestida por seis mil mudas de Espada de São Jorge. A saída veio em forma de um vaso confeccionado a partir de uma chapa de alumínio dobrada como um origami. "Ao unir uma técnica milenar a um material moderno, conseguimos uma solução simples e eficiente. Isso não se aprende em cursos acadêmicos, mas com pesquisa e vivência, aliadas a um olhar livre de conceitos pré-estabelecidos", revela Lula. A combinação entre conhecimentos de diferentes disciplinas e pesquisa aplicada também resultou em ideias criativas para o projeto do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, assinado pelos arquitetos do Corsi Hirano. "Era importante assimilarmos o que a ciência tinha a oferecer para a arquitetura. Isso nos fez pensar em cada elemento do museu sempre vinculado à ciência", conta Daniel. No projeto, isso é visível na entrada em balanço, que provoca um questionamento sobre a física, e nas perfurações da superfície da fachada que representam o infinito ao reproduzir diagramas matemáticos. "A inventividade surge de associações. Exceder a arquitetura é fundamental", finaliza Daniel.

COMO ESTIMULAR
A criatividade se revela a partir de associações e combinações originais de planos, modelos, sentimentos, experiências e fatos. O consultor Jairo Siqueira conta que há uma série de técnicas para estimular esse tipo de pensamento. Algumas são mais conhecidas, como o brainstorming, que permite a geração de novas ideias, conceitos ou soluções relacionadas a um tema específico em um ambiente livre de críticas e de restrições à imaginação - que pode tanto ser feito em grupo quanto individualmente.
Há ainda o mapa mental (mind map), que consiste em um diagrama que centraliza certo conceito e, a partir dele, dispõe radialmente palavras, ideias, tarefas e outros itens ligados ao conceito que se quer aprofundar. "O diagrama representa conexões entre pedaços de um tema ou tarefa. Pelas informações e suas conexões de uma maneira gráfica, o mapa mental estimula a imaginação e o fluxo natural de ideias livre da rigidez das anotações lineares", explica Jairo que recomenda, ainda, a prática constante de questionar a validade de regras, procedimentos, situações, informações ou comportamentos assumidos como verdadeiros e incontestáveis. Afinal, esse tipo de pensamento engessado só atrapalha a inovação.
INOVAR PARA CRESCER
A batalha entre lucratividade, prazo e crescimento pode ser contraditória na adoção de técnicas para estimular a criatividade. A lucratividade requer eficiência, processos estáveis e controlados, padronização e previsibilidade. O crescimento, por sua vez, requer inovação, mudanças nos processos, fuga da rotina e assumir riscos. "A opção pelo crescimento implica certa tolerância a erros, pois raramente a inovação nasce de uma única ideia brilhante. Muitos casos de sucesso são construídos sobre experimentos fracassados", ressalta o consultor.

Como estimular a criatividade?
● Fuja da Síndrome da Jaula Pequena, caracterizada pela inércia e pelo comodismo. Você pode estar cercado de oportunidades para fazer coisas originais, mas continuar a fazer as coisas sempre do mesmo jeito, ignorando as mudanças que ocorrem à sua volta
● Procure criar uma cultura de experimentação no escritório, ainda que isso possa exigir alguma disposição para arcar com os custos de tentativas fracassadas até se chegar ao sucesso
● Mantenha-se sempre atualizado em relação a novos materiais e técnicas
● Reserve um tempo para investir em novas soluções para o projeto. Não pare na primeira ideia
● A criatividade só se transforma em inovação quando é bem-aplicada. Na arquitetura, ideias criativas fazem sentido quando estão acompanhadas de sentido
● No dia a dia, utilize ferramentas como o brainstorming. Também analise as ideias considerando seus pontos fortes, fracos e interessantes. Explore todos os aspectos da ideia antes de julgá-la
● Além do brainstorming, arquitetos podem fazer croquis à mão livre para estimular a imaginação e o fluxo de ideias desde o início do projeto
● Guarde seus croquis em um local de fácil acesso. O material pode servir como fonte de inspiração para projetos futuros

Sergio Colotto

 

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