Urbanismo

Na Venezuela, cinco projetos realizados por 20 coletivos de arquitetura mostram formas de trabalhar com a comunidade local para transformar espaços subutilizados em locais de encontro e de produção cultural

POR MARIANA SIQUEIRA

Edição 257 - Agosto/2015

DESENHOS    http://au.pini.com.br/au/solucoes/galeria.aspx?gid=13849

FICHA TÉCNICA  http://au.pini.com.br//au/solucoes/galeria.aspx?gid=13850

439 Estudio, Abono Arquitetura, AGA, Already Happening, Asymetric, Capa, Coda, Colectivo Animal, Entre Nos Atelier, Grupo Talca, Insitu, Lab. Pro.Fab, Maan, Oficina Informal, Oficina Ludica, PGRC, Pico, Proyecto Colectivo, SER, Taller Activo . Venezuela . 2015

O visível frescor que emana das dez intervenções urbanas entregues na Venezuela pelo projeto Espaços de Paz, em 2014 e 2015, deve-se, em parte, ao fato de serem fruto da relação direta entre governo, profissionais, movimentos sociais e comunidades. A iniciativa é do Movimento pela Paz e a Vida, espaço criado pelo Governo Federal para promover a segurança, com a participação popular, em bairros marcados por altos índices de violência urbana.

A ideia é gerar condições para o surgimento de novas dinâmicas sociais e formas de convivência com intervenções físicas no território. Nesse sentido, a arquitetura é apenas um meio, "uma desculpa", como frisam a todo o tempo os arquitetos envolvidos no projeto, para gerar organização social, cultural, econômica e política nas comunidades. Uma das estratégias chave é o desenho participativo: trabalhando em conjunto, população e arquitetos definem o programa de necessidades e as técnicas a serem empregadas em cada projeto, materializados por processos de autoconstrução. Ao governo cabe viabilizar a empreitada, fornecendo os recursos físicos e institucionais.

"A participação em todos os níveis, desde a formulação até a execução, aplicada como um mecanismo de autogestão do projeto, envolve o cidadão na construção do espaço público em meio a um processo pedagógico que fortalece a coesão do bairro e o empoderamento coletivo", resumem os arquitetos do Pico Estudio, convidados pelo Movimento pela Paz e a Vida para criar uma metodologia de intervenção no espaço capaz de gerar mudanças mais amplas.

Norteados por anos de experiência em projetos com organizações de base, os arquitetos propuseram reduzir ao máximo o tempo e os recursos dispendidos com processos burocráticos, colocando em xeque a lógica das grandes operações de renovação urbana, normalmente custosas, demoradas, abstratas e impessoais.

Em 2015, assim como em 2014, foram construídos projetos em cinco comunidades venezuelanas. Desta vez, as equipes foram compostas por um escritório que já havia participado da primeira edição para fazer a coordenação, dois escritórios locais e um estrangeiro, vindo de países da América Latina (Chile, México, Costa Rica, Argentina e Colômbia).

Durante seis semanas, as equipes ficaram em imersão nos projetos e vivenciaram intensos processos de convivência, comunicação, tomada de decisões e criação de acordos, desenhando e construindo espaços públicos a partir de perguntas e respostas geradas in loco.

A estrutura metodológica é sempre a mesma: a primeira semana é de pré-produção, quando todos se conhecem e entram no clima da empreitada que está por vir. As quatro semanas seguintes servem para fazer assembleias e oficinas que geram o espírito da intervenção e para desenhar e construir o projeto por um processo transversal e não linear - o desenho é feito e refeito o tempo todo. Finalmente, a última semana é a de pós-produção, quando se demonstram os resultados.

A escolha dos materiais e técnicas a serem empregados vem do contato com as capacidades de mão de obra locais, como uma forma de aproveitar e fortalecer os saberes já presentes na comunidade, e da disponibilidade de materiais nos depósitos do Governo Federal, formulados para atender as distintas missões dentro do país - neles, concreto, agregados, ferragens, pinturas e partes elétricas são mais comumente encontrados. EL MIRADOR Das mil e uma ideias que surgiram das assembleias e oficinas feitas com os moradores do bairro El 70, um dos mais violentos de Caracas, um elemento era constante: a vontade de poder desfrutar da paisagem. Do terreno disponível para criar o Espaço de Paz, tem-se uma vista de 360° sobre quase toda a cidade.

A partir dessas mesmas conversas, os arquitetos perceberam que o uso dos espaços públicos, na comunidade, reduzia-se a uma simples quadra de esportes. Foi assim que nasceu a intenção de criar, com o novo edifício, uma verdadeira praça.

Assim estavam definidos dois dos espaços do projeto: uma pequena torre foi construída aproveitando vigas e pilares metálicos existentes no terreno - antes, o conjunto não tinha mais que 3 m de altura, e por isso, teve que ser parcialmente reconfigurado para dar origem ao mirante - e o térreo foi deixado livre para poder ser ocupado como uma praça pública.

Ao piso inferior, cuja cota já estava estabelecida antes do começo do projeto, ficou a função de abrigar uma série de usos propostos pelos moradores: encontro e reunião para a terceira idade, ensaios e aulas de dança, parquinho para as crianças. Daí o caráter multiuso do grande salão com piso de madeira sob a praça, dotado de recuos laterais em suas quatro faces para garantir adequadas iluminação e ventilação naturais.

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Fonte:

http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/257/na-venezuela-cinco-projetos-realizados-por-20-coletivos-de-arquitetura-358093-1.aspx

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