Idéias e projetos urbanos que priorizam as pessoas

por Natália Garcia

É possível que haja um consenso entre os leitores dessa reportagem e sejam todos – ou a grande maioria – moradores de uma cidade, com o desejo de melhorá-la. As divergências começam quando tentamos estabelecer como será essa melhora. Transporte público de qualidade, áreas verdes, calçadas e ciclovias estão entre as demandas mais comuns, mas o fato é que estabelecer parâmetros e critérios do que é uma cidade para pessoas não é uma ciência fácil.

Com essa questão em mente e minha bicicleta dobrável na bagagem, percorri destinos pelo mundo para tentar levantar ideias e projetos que pudessem inspirar as cidades brasileiras. A primeira parada foi Copenhague, na Dinamarca, onde procurei o especialista mais reconhecido do mundo sobre esse assunto. “Sabemos tudo sobre o habitat ideal de qualquer mamífero da face da Terra, menos do Homo Sapiens, e não é nisso que a maioria dos urbanistas pensa ao fazer um projeto para uma cidade”, disse-me o planejador urbano Jan Gehl, que vem dedicando uma carreira de mais de 50 anos em seu escritório Gehl Architects a tentar melhorar as cidades para seus moradores.

Nessa conversa, Gehl me explicou que as soluções e projetos precisam ser locais e adequadas à realidade de cada cidade. Mesmo assim, segundo ele, há algumas regras imprescindíveis para que as cidades proporcionem uma vida de qualidade a seus moradores. Depois de passar por 12 cidades, constatei que essas regras, abaixo descritas, estavam certas.

As cidades são feitas de pessoas

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piscina pública no canal que banha Copenhague

É um fato óbvio, mas pouco lembrado nas cidades brasileiras. Por aqui é comum que as diretrizes para o desenvolvimento dos centros urbanos sejam o crescimento econômico, o mercado imobiliário, as grandes empresas e indústrias – todas peças importantes, mas que acabam se sobrepondo ao que deveria estar em primeiro lugar: as pessoas.

Nos espaços públicos, deve-se respeitar a Escala Humana

É muito mais agradável percorrer uma cidade com dimensões adequadas para serem contempladas “do chão”, a partir dos olhos das pessoas. “O corpo humano possui dimensões e capacidades físicas de locomoção que muitas vezes são esquecidas em projetos de prédios e espaços públicos”, explica Jeff Risom, urbanista novaiorquino membro do time do Gehl Architects. Para ele, uma cidade para pessoas é feita para ser contemplada à pé, a 5 km/h. “Uma escala muito grande ou muito rápida destrói a relação das pessoas com os espaços públicos”, explica.

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Waterfront à beira do rio Williamette, em Portland

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Beira do rio Williamette, em Portland

Na cidade americana de Portland, por exemplo, a urbanização dos rios foi feita com grandes avenidas e viadutos nas margens, o que tornava quase impossível admirar o local. Com o tempo ficou claro como a qualidade de interação com o rio melhoraria com a criação de um Waterfront – expressão que designa a margem urbanizada de um rio – para ser percorrido à pé e de bicicleta.

A cidade precisa contemplar a diversidade das pessoas

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beira do rio Sena, em Paris

“Para estabelecer um senso de respeito mútuo e tolerância, temos que contemplar a maior diversidade possível de pessoas nos espaços públicos de uma cidade” explica Risom. “É preciso ter espaço para jovens e idosos, homens e mulheres, ciclistas, pedestres, motoristas e portadores de quaisquer deficiência”, exemplifica Risom. Uma cidade tolerante com sua população tenta contemplá-la ao máximo em sua diversidade nos espaços públicos. Se todos têm seu lugar, não há necessidade de brigar por espaço e a convivência tende a ser mais harmônica, segundo o urbanista. Em Copenhague, os pedestres, ciclistas, motoristas e cadeirantes têm sempre espaços definidos e respeitados pelas ruas da cidade. Já em São Francisco, pessoas de vários gêneros e orientações sexuais, bem como com os adeptos a pouca ou nenhuma vestimenta, passeiam tranquilamente pelos espaços públicos. Mais do que tolerados ou respeitados, eles são tratados com a mesma normalidade de um homem de terno e gravata.

Fonte e artigo completo: http://cidadesparapessoas.com/ideias-e-projetos-urbanos-que-priorizaram-as-pessoas/

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